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Nem concreto, nem aço: o futuro da construção civil está na madeira
Setor avança com tecnologias mais limpas e sustentáveis e discute caminhos para ampliar o uso da madeira engenheirada no Brasil
Diante da urgência climática e da necessidade de descarbonizar a economia, a construção civil brasileira volta seus olhos para soluções mais sustentáveis. A madeira engenheirada é a estrela desse processo e vem se consolidando como uma alternativa viável, eficiente e ambientalmente responsável — com potencial para revolucionar o setor. No Brasil, a produção cresceu 160% em cinco anos e a previsão é de que a produção global avance 115% nos próximos dez anos. Leve, versátil e com baixa pegada de carbono, a madeira alia rapidez construtiva, alta precisão nos projetos e menor impacto ambiental, além de contribuir diretamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Com um déficit habitacional de mais de seis milhões de moradias no país, a construção industrializada em madeira se apresenta como uma resposta concreta e escalável, especialmente para projetos habitacionais e reconstrução urbana. Essa tendência ganhou ainda mais força no XVIII Ebramem (Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira), realizado nesta semana em Curitiba.
Reunindo centenas de empresários, técnicos e pesquisadores do setor, o evento é um marco político e científico na mobilização nacional em torno do enorme potencial construtivo da madeira engenheirada no Brasil. Para os próximos anos, os setores florestal e madeireiro projetam um crescimento exponencial, com a madeira cada vez mais presente no cotidiano da construção civil — de edificações modulares pré-fabricadas a paredes, lajes, vigas e habitações, tanto populares quanto de alto padrão.
Em 2024 o Brasil produziu 10 mil m³ de madeira engenheirada, enquanto a Alemanha e a Áustria produziram 7,4 milhões m³, em um território várias vezes menor do que o do Brasil. Mas a produção brasileira avança. Há cinco anos, o país produziu menos de 4 mil m³.
Os dados, apresentados pelos especialistas durante o Ebramem, apontam que o crescimento da madeira na construção civil depende da superação de algumas barreiras. "Falta de mão de obra qualificada, de competência técnica, tanto da parte que envolve a arquitetura como a engenharia, e de políticas públicas específicas que incentivem as construções em madeira. São alguns dos gargalos que o setor precisa enfrentar e vencer", destaca o presidente da Associação Paranaense das Empresas da Base Florestal (APRE Florestas), Fábio Brun.
Para ele, o exemplo internacional mostra o caminho: "Todos os países que se destacam nesse setor começaram pelo poder público. Seja por legislações específicas, metas em licitações ou benefícios fiscais. Foi sempre o Estado quem deu o primeiro passo", completa.
Países que hoje estão à frente do Brasil, como o Canadá, Áustria, Alemanha, Suécia, Finlândia e França, começaram pelo setor público. "Muitos começaram por obras públicas ou por meio de determinações legais exigindo que parte das construções fosse de madeira ou com a concessão de incentivos fiscais", afirma Patrick Reydams, engenheiro e consultor técnico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e mediador do painel "Cenário da madeira engenheirada no Brasil".
Enquanto isso, no Brasil, a consolidação do setor passa também pelo reconhecimento das vantagens técnicas e produtivas desse modelo. O sistema construtivo com madeira permite obras mais rápidas — com redução de até 40% no tempo de execução — e oferece um controle rigoroso de qualidade, uma vez que as peças saem prontas da fábrica para montagem direta no canteiro. Tecnologias como o CLT (Cross Laminated Timber) e o MLC (Madeira Lamelada Colada) já viabilizam construções seguras, sustentáveis e em larga escala, incluindo edifícios de múltiplos andares, como ocorre em países da Europa e da América do Norte.
Neste cenário de transformação, o Ebramem reforça o protagonismo da madeira na construção civil. O evento realizado em Curitiba se consolidou como espaço de articulação entre empresas, governo, universidades e profissionais da engenharia e arquitetura. Mais de 500 participantes debateram temas como inovação, políticas públicas e o panorama nacional e internacional da madeira engenheirada.
Durante o encontro, a presidente do Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira (Ibramem), Ângela do Valle, foi enfática: "O futuro da construção civil não será de concreto, nem de aço, se quisermos que ele seja sustentável. Cada metro cúbico de madeira utilizado em substituição a materiais convencionais representa uma oportunidade de reduzir emissões, gerar empregos, estimular inovação e promover inclusão social. A madeira vem como protagonista e as florestas plantadas precisam ser vistas como ativos estratégicos de uma nova economia verde".
Embora ainda enfrente desafios estruturais e culturais, a construção civil em madeira ganha força no Brasil. A madeira plantada e certificada, além de ser um ativo estratégico da bioeconomia, pode e deve ocupar papel central na construção de cidades mais inteligentes, resilientes e sustentáveis. "O Brasil tem um grande desafio social e ambiental, e a madeira pode ajudar a suprir essa demanda de forma mais eficiente e limpa. Estimamos um crescimento mundial de 115% nos próximos 10 anos", destaca Calil Neto, CEO da Rewood, empresa que participa da exposição.
Os especialistas do setor deixam claro que o avanço da construção civil em madeira no Brasil depende, sobretudo, de uma mudança de mentalidade. Com incentivos adequados, capacitação técnica e políticas públicas alinhadas à sustentabilidade, o país tem potencial para se tornar referência global em construções mais limpas, rápidas e eficientes. Durante o evento, o diretor executivo da APRE, Ailson Loper, deixou um recado: "A madeira engenheirada não é apenas uma alternativa viável — é uma necessidade diante dos desafios climáticos, sociais e econômicos que se impõem. O momento de agir é agora".
O Ebramem é organizado pelo Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira (Ibramem), pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), pela Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) e pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), que sediou o evento. A iniciativa uniu teoria e prática, além de apresentar como Canadá, Itália, Portugal, Chile e outros países vêm derrubando mitos sobre construções com madeira e fomentando uma nova mentalidade construtiva envolvendo sustentabilidade, qualidade, alto padrão e conforto.
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